Arquicast 215 – O que é Neuroarquitetura

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Hoje vamos falar sobre um tema que tem circulado entre os profissionais arquitetos nos últimos anos, principalmente através das redes sociais. Muita gente ainda tem dúvidas sobre ele e suas aplicações na hora de se pensar arquitetura. Por isso, a conversa aqui é pra que a gente possa tirar as nossas dúvidas, esclarecendo qual o seu lugar no nosso campo de trabalho. Estamos falando da ciência que busca unir arquitetura à neurociência para criar espaços que influenciam nosso bem estar e comportamentos, a Neuroarquitetura. Para isto convidamos dois especialista nos tema: Nicole Ferrer é arquiteta pela Universidade Federal de Pernambuco, mestra pelo Instituto de Tecnologia de Illinois em Chicago, especialista em neurociência e em ergonomia, e coautora do livro “Neuroarquitetura: a neurociência no ambiente construído”. Lori Crizel é arquiteto pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul,  especialista em neurociências e comportamento humano. Ele também é presidente da ANFA (Academy of Neuroscience for Architecture) no Brasil, professor do Politécnico di Milano (Milão/Itália) e autor do primeiro livro do país sobre neurociência aplicada à arquitetura, design e iluminação.

Bom cast!

5 comentários em “Arquicast 215 – O que é Neuroarquitetura”

  1. Olá, gente, tudo bem? Embora eu eventualmente tenha posicionamentos diversos do de vocês, respeito e admiro bastante o trabalho persistente, disciplinado e competente na produção regular do Arquicast. Vou me permitir então fazer uma crítica à pauta da neuroarquitetura.

    Dar espaço para a difusão desse discurso de uma maneira pouco crítica — sem o devido contraponto de psicanalistas, antropólogos e pesquisadores afins — pode resultar em algo bastante problemático, pra dizer o mínimo. São MUITAS as disputas em torno do que ficou conhecido desde o fim dos anos 80 como “neurocultura”, algo que vem sendo definido por pesquisadores nos campos dos estudos de ciências e tecnologias (STS, como é conhecida na sigla em inglês) como um momento histórico no qual o cérebro se transforma num novo ator político (ou mesmo num sujeito político). Pesquisadores e estudiosos das áreas da psicologia, da psicanálise, da antropologia, da sociologia e de outras áreas vêm apontando as ameaças de uma normalização das neurociências como uma autoridade inquestionável, provocando não só a biologização da vida social (reduzindo TUDO a indicadores fisiológicos metrificáveis) mas também naturalizando aspectos da ideologia dominante a partir de uma retórica cientificista.

    Antropólogas como Emily Martin, Susan McKinnon, entre outras (assim como as já clássicas referências dos STS como Donna Haraway e Isabelle Stengers) vêm discutindo há décadas os efeitos nefastos do cientificismo insistentemente positivista na vida pública — e a neurocultura é o aspecto mais recente disso, já embebido de um ethos neoliberal, inerentemente pró-capitalista, individualista e disciplinador de corpos e mentes. Não por acaso, aparece no programa um exemplo de “neuroarquitetura” aplicada a um projeto de um banco (!) a respeito do suposto bem-estar dos seus “colaboradores” (!!!): a retórica neoliberal permeia todo esse cientificismo. A neuroarquitetura ignora recortes de classe, gênero, raça e despolitiza a psique — inclusive os convidados insistem nessa retórica neoliberal despolitizante ao falar em bobagens como “holístico” e coisas do tipo. Não temos que projetar melhores sedes de bancos utilizando indicadores fisiológicos para fazer trabalhadores atuarem melhor sem questionar nada, precisamos destruir as sedes de banco — e uma faculdade de arquitetura deveria atuar nesse sentido, não em instrumentalizar projetistas para adotar esse cientificismo positivista disciplinador de corpos e naturalizador do neoliberalismo.

    Mais antropologia e menos neurociência, por favor. Mais humanidade e menos neoliberalismo. Mais vida e menos fisiologia. A neuroarquitetura tem o potencial de ser a nova eugenia e isso deve ser seriamente problematizado.

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